Textos para reflexão
Quase impercebível
Ah! Só hoje; só hoje é que a mente cedeu espaço
para que, o que vai reflita e agradeça ao que fica. E quero de maneira mais
sincera e profunda dizer que a nada e a ninguém poderia dedicar tamanho
empenho, mesmo sabendo que não conseguirei expressar tudo que mereces ouvir,
pois foste e és o mais perfeito e obediente diante de todas as minhas vontades,
caprichos abusivos e volúpias vãs, até com ousadia mister de quem ignora a
disposição alheia.
Ah corpo! Como podes ser tão fiel a quem faz tanta
exigência e até força à perfeição? Sabes que o próprio, não daria tanto sem
algo em troca receber. Quando lembro que nunca me disseste um não, sinto em tua
pele o quanto te devo em gratidão. Quando cansado, sem poder corresponder,
ainda tinhas que ouvir murmúrios de quem por vezes, e por muitas vezes, não
teve a capacidade de entender o quanto és apenas carne e osso num universo de
uma natureza infrene onde tudo é transformável.
Nunca me desloquei sem necessitar de ti; mesmo nas
mínimas locomoções, nos pequenos gestos e até no soltar de uma lágrima ou no ar
de um sorriso, precisei que correspondesse a essa expressão. Já nas longas e
duras jornadas, aí então, não tenho as necessárias palavras que possam
mencionar o quanto foste companheiro irmão, tipo dois em um, enquanto viver.
Agradeço também ao tempo, mesmo no final, pelo instante reflexivo e voltado
para aquele que de mim nada exigiu.
Hoje irei, mas fique com a certeza de que alguém jamais
teria sido tão prudente.
Eu e ele
- ...?
- Eu estou
bem. Ao contrário deste velho corpo que perde a resistência e com ele quer me
levar. É verdade, eu estou muito bem, mas ele não. Estou bem porque enquanto
ele perde a capacidade de se reproduzir, eu me renovo e cresço, aprendo que não
é com ele que devo ir, pois ele perece, eu vivo; e com o passar do tempo
aprendo que a vida é para sempre. Lamento por ele, por saber que nasceu e vive
para me servir. Foi companheiro inseparável e senhor do meu abrigo. Lembro-me
das muitas vezes, as quais discordou de mim, geralmente querendo sempre o
melhor e palpar o que a vida não parecia querer lhe dar. Olha, é impressionante
como ele é fascinado pelo oposto; e que tem muito bom gosto eu não posso negar.
Interessante é que esse seu bom gosto me balança e muitas vezes consegue me
levar. Aqui pra nós, confesso que o agradeço, mas sem que ele perceba, porque é
vaidoso e tentador. Também podera, a ele cabe o instinto, a mim, o raciocínio,
que me dá forças para controlá-lo e mostrar-lhe que apesar de sermos dois em
um, temos caminhos diferentes. Sei que é forte e quer me fazer seu escravo,
porém, o que é para sempre não pode ceder e saciar-se apenas com os mesmos
desejos que satisfazem, por momentos, àquele que vem, vive, mas se vai após um
certo período.
Não diria que estou
feliz. Nem poderia. Seria um grave desequilíbrio meu num momento de reflexão.
Como poderia dizer que estou feliz, se faltaram em minhas mãos tudo aquilo que
poderia aliviar as míseras necessidades minhas e dos meus. Se a ele não pude
saciar sequer um dos incontroláveis desejos que por tantas vezes o deixaram
trêmulo ao vê. Trêmulo e exalante por sentir e não poder, porque dizem ser
proibido.
No mais, voltando-me
à compreensão, posso dizer que estou bem.
Por
que não param?
Enquanto os abarrotados pela dor e pelo impacto que
castra os sonhos e a aspiração dos que ainda buscam algum significado do que é
viver, gritam na solidão de um silêncio que não ecoa, os que almejam e sentem
prazer no que destrói, avançam indiferentes com a apatia própria dos que
enxergam os outros apenas como um lixo humano.
Por mais que a história insista, não dá
para conviver com uma facção que promove intermináveis valetas de enterros
coletivos apenas por deleites extraídos da tritura dos que clamam por
clemência. Há muitos argumentos tentando convencer, porém é em vão qualquer
explicação diante da ganância de possuir o que não lhes pertence. Só os
fragilizados pela desilusão de sonhos palpáveis, entre racionais, lacrimam
viver num covil onde os de lá não sentem a dor alheia.
Que gene será que lhes falta para que a indiferença
seja a base de suas vitórias rudes, onde o produto final é um saldo de
cadáveres e de vivos ressecados?
Por
que não param? Talvez os que sofrem sejam frutos do destino do Faraó, ou de
Esaú; e os que talham, sejam frutos dos que tiveram o coração endurecido.
Ir
Em cada guerra existem apenas dois lados: o de cá e
o de lá. Pode envolver-se o mundo todo, mas sempre só haverá o contra e o a
favor. Os motivos variam, mas existe sempre uma sede comum entre elas. Tudo
pode ser diferente em cada uma delas: épocas, alvos, soldados, motivos, ...
tudo, mas a sede é sempre a mesma: o poder. Pouco importa quem vai ou quem
fica. Não importa se machuca, se destroi ou sacrifica. Não importa o filho
órfão ou a mãe que grita. Tem que ir, passar, chegar. A ordem é atirar e o alvo
é o outro, o contra, que como o de cá não passa de um ser usado por um
indiferente e frio grupo que tem como objetivo manter o domínio, mesmo que
tenha de eliminar quase toda espécie humana; mesmo porque na concepção deles o
povo e o policial não passam de instrumentos descartáveis e bonecos protetores.
Mas,
se a guerra é natural, se desde séculos antes de Cristo, Deus escolhia os Seus
e ordenava que vencessem os outros, temos que admitir que a história universal
vem apenas ligando seus pontos pela força da natureza. Em suma: se a vida é um
campo de batalha e a ordem é avançar, e se somos atores ou apenas figurantes,
só resta a cada um prosseguir, ir ... tentar alcançar.
Sei lá
Há milênios, desde a existência, o povo é
lesado através de blá-blá-blá. Cada vez que ele fica mais arisco as teorias
progridem. O homem público fica mais “comovido” e “sensível” à situação mísera
da nação. Este é o lema de gerações e mais gerações, e até hoje as pessoas
continuam rudes, cometendo a gravidade de os tornar líderes e até ídolos.
É confuso vê que depois de tudo que a
história tem nos mostrado através dos séculos, as pessoas, principalmente
aquelas mais maduras no seu senso crítico, ainda venham acreditar que a solução
esteja na implantação de um novo sistema. Não se pode acreditar que pessoas que
se dizem está empenhadas na luta por um mundo justo se tornem um imenso
comboio, sempre exposto a um novo jogo de laço.
Não existe sistema político ideal.
Qualquer um deles, já vindo ou ainda por vir, usou e usará o homem simples como
alvo de suas projeções. Acreditar num sistema é se fazer presa fácil de
dominar.
Os séculos têm nos mostrado que seria amando uns aos outros que
transformaríamos essa “cadeia alimentar” em um mundo de humanos. Que todos os
recursos que possamos ter, ainda assim, é insuficiente sem a dosagem do
coração.
Você
concorda?
Às vezes dá para sentir que o homem já
encontrou sua definição, apenas não aceita ser um simples ente programado, pois
assim, no seu modo de ver, se tornaria algo sem o seu suposto valor. Seria
apenas servo e nunca senhor. Interessante é que este comportamento não é criado
por ele próprio, mas recebido, para que viva tendo a impressão de que pode, com
a busca, preencher o vácuo da sua insatisfação. É este comportamento que o
impulsiona a escrever a página de sua vida numa folha que, sem saber, não está
mais em branco, pois não admite ser um indivíduo criado para trilhar as pautas
de uma história que já foi traçada e terá que ser concluída. Não admite está só
a serviço, sem opção. Incomoda-se ao sentir que ao homem cabe a busca e ao
Criador o adquirir; que, o conseguir é para os Escolhidos, aos anônimos, o em
vão.
Numa comparação concreta,
vemos que apesar dos peixes serem todos peixes e viverem no mesmo ambiente,
eles têm funções e poderes diferentes. Em relação aos homens, enquanto um nasce
para equivaler ao peso de uma saca o outro nasce para equivaler ao peso de um
grão. Assim como um peixe nasce para ser grande e outro para ser pequeno,
também, um homem nasce para ser dominado e o outro para ser dominante. Entender
que o peixe pequeno é destinado ao sustentáculo da continuação, seria admitir
que, apesar de estarem no mesmo ambiente, o pequeno jamais se tornaria grande.
É lógico que o homem jamais adotará isso como filosofia de vida; lembra-se? Ele
é movido pela insatisfação.
Ele
No espetáculo da vida os
palhaços são muitos, no entanto o público não se cansa de arriscar vê mais um.
No grande circo encontramos palhaços que brincam, que pulam, que rolam, que
pisam, que gritam, que calam, que choram, que vão e que ficam.
Sabe, o bom palhaço
sempre se entristece antes do espetáculo por saber que vai encontrar um público
torcido e espremido pelas mãos dos robôs que se dizem humanos. Mas ele vai, vai
em busca do riso e da gargalhada, querendo sentir um mundo melhor.
É muito triste
saber que como sempre, hoje, por egoísmo e maldade um corrupto e pequeno grupo
ocupa o palco para sugar uma platéia já sem riso, quase sem vida, e depois se
faz público para assistir a miséria de uma nação que pela lei do uso, continua
sendo nutriente para o cio de desequilibrados animais. Animais estes que se
contagiam pela corrosão do germe que ansia pelo topo de um monte que já não
suporta o peso de mais um.
Oh... Palhaço!
Repelir
A espécie humana parece
ser a mais fácil de dobrar, de iludir. Parece uma amostra grátis de retardados.
Nunca aprende que a vida é sempre uma repetição das tragédias em cada geração.
Que desde os primeiros tempos a igreja e o poder sempre se uniram para tirar
parte dos bens e dos direitos da nação. Só não sabe disso quem nunca se
interessou em diferenciar entre o resto e uma porção anormal.
Esse resto não aprende nem mesmo com exemplos semelhantes ao
dos cadáveres vivos da Etiópia, Somália e os do resto do mundo. Nem mesmo vendo
crianças deficientes e cegas, vítimas da desnutrição. Só não desperta o surdo,
o mudo, o bloqueado. Se a porção vive bem, o resto não
conta?
Na
última guerra mundial um Hitler flagelou e eliminou milhares
de seres humanos. Se ele usava câmaras de gás e campos
de concentração, hoje, a nossa porção elimina o resto,
a curto e a longo prazo, pelo descaso, imergindo-os nos dejetos que sugam para
a exclusão da vida; montando assim uma exposição onde podemos observar quadros
refletindo o privilégio da ascensão, e outros, o limite da
sobrevivência. Estes últimos são opacos, pois entre suas molduras estão
imagens turvas de frágeis e deprimidos à mercê dos que pregam a “justiça
social.”
Peleja
No início,
são sonhos impulsionados pela força da inocência, que por algumas vezes faz
chegar ao ponto almejado, não se sabe se apenas por acaso ou por certa
predestinação. Ao cair do sonho, também cai o véu, revelando a trilha a seguir.
Num segundo estágio, a grande maioria fica a degustar o sabor da desistência ou
da falta de oportunidade. Já os que seguem cavalgando, vão num galope mais
lento, precavidos de alguns laços, sem se expandirem na crença de que basta
molhar-se na persistência da busca, mas sim, selecionando alvos a seguir; e por
vezes são alcançados. Pena que muitos já tardios, sem suco, meio murchos, mas
palpáveis. Se vale a pena? É só somar tudo, avaliar com uma visão realista, e
colocar na balança o que sobrou da peleja; por certo, muitos verão que se
colocada esta amostra numa moldura, seus fragmentos retratarão apenas os tombos
e a teimosia pelo equilíbrio. E talvez, no esforço de dizer que algo valeu a
pena, uma grande porção, tenha que olhar só com os olhos do peito, já que este
é o único meio de enxergar a esperança.
Véu
São muitas
as vezes, que basta um olhar para que o encanto envolva a gente..., que pena
faz, vê o dia-a-dia, desnudando o que havia por trás do véu, e fazendo trocar o
sentimento que nos complementa pela busca do entender quando e quem errou.
Emoldurar
A partir do nascer, o convite é para a molduragem. Começa a missão dos
que lhe rodeiam, e depois, a vida, com as personagens necessárias para a
dilapidação emergente, começa o seu processo de moldagem para o ato fim.
Os primeiros tempos são destinados à diferenciação do ser, e o passar dos
tempos, à aprendizagem para ser. Os inscritos são predestinados a aprender e
ensinar a inserir e cravar o mistério do crê; os não escritos,
são predestinados a mostrar a porta e o caminho largos
para a satisfação urgente e a realização do prazer. Ambos, inscritos e não, são
imprescindíveis num trabalho em paralelo até o ato de emoldurar e aguardar a
exposição.
Depois da tarefa, os não escritos, como também são criaturas e contribuíram
para os “ai daqueles”, irão aguardar os tempos da regeneração ( Mt 21:31, Mt
10:14 ).
Sopro
Mesmo sabendo que uma grande facção é astuciosa e
se faz diferente pela prática abusiva da manipulação, bafejando o refletir do
valor moral de uma nação, tornando em vão o sacrifício da busca pela
libertação, e que o caráter vem do brotar e não da educação, ainda assim,
pensar que pode transformar é o que dar significado, força e
razão àqueles que acreditam no sopro da vida.