Tenho sede
Tenho sede. Não do líquido que por sua
falta leva o corpo à desidratação, mas aquela que inflama a carne, e no suor
dos corpos, já fez Eva valer mais que o paraíso, quando expôs suas polpas
proibidas a Adão; que já fez o desejo do Faraó ser maior que a honra de Abraão,
que já fez o grande Davi, pelo corpo de Bate-Seba, sujar sua honra e pôr em
risco sua unção; que já fez até o mais sábio dos homens, Salomão, perder
o equilíbrio, e se lhe fosse opcional, trocaria seu harém pelo corpo da rainha
de Sabá, mesmo este harém lhe oferecendo mil mulheres, entre esposas e
concubinas. Ah! Como deve ter ardido o ciúme de Abraão, o desejo de Salomão e a
fúria do rei grego Menelau, que sentiu dor maior que Aquiles, ao saber que os
ingredientes de sua Helena foram ser deliciados por outro paladar. E quanto a
mim... um ser comum e pequeno em sabedoria? Ah! Treme o corpo, arde o peito,
vai-se a razão... e fica o santo e maldito desejo, a mendigar as porções das
proas e das bordas proibidas.
Sede ardente
Tenho medo de que não tenhas por mim,
o sentimento capaz de ler em meus olhos, os escritos de desejos ardentes,
ditados pelos ecos retraídos do coração, que tremendo, suplica por teus lábios,
que mesmo inibidos, deseducam meu desejar e inflamam a sede que me
consome.
Não desvie seu olhar do meu, nem espere meus lábios sussurrarem segredos, pois as palavras se atropelariam e não diriam da intensidade do desejo nem da pureza do sentimento.
Não desvie seu olhar do meu, nem espere meus lábios sussurrarem segredos, pois as palavras se atropelariam e não diriam da intensidade do desejo nem da pureza do sentimento.
Queria
ser
Queria ser estrada, aquela por onde desejas
trilhar; e quando os quereres te estimularem, ser o atalho no caminho para
antecipar teu cio e dobrar a viga do teu viço.
Queria ser o sussurro que ao teu ouvido, quando em dúvidas, indica a direção e o sentido a tomar.
Queria ser o sussurro que ao teu ouvido, quando em dúvidas, indica a direção e o sentido a tomar.
Queria ser o alvo que, mesmo nos momentos de olhar
turvo, consegues enxergar.
Queria ser iluminação para, mesmo nos momentos
opacos dos teus dias, te fazer brilhar.
Queria ser turbulência para te remover dos momentos
em que a esperança parece não ter amanhã, e te condicionar à exaltação.
Queria ser teu refúgio e o cochicho no coração
capaz de te reerguer quando os dias pardos da tua vida tentam te fazer
fraquejar.
Queria ser o instinto que impulsiona teus passos, e
quando trêmulos de querer, rumá-los ao meu desejar.
Queria ser o silêncio do sol num entardecer, e soprando
rumores ao teu coração, conduzi-lo à sede de me querer.
Queria ser o ponto final do instintivo que te
incita ao ato sacrossanto da desobediência, e em êxtase, no éden, podermos
libar a essência do nosso espojar.
Sedução
Enlevo que me incita, domina minha mente, fende meu
peito e contrai o coração; e que, com seus discretos e naturais petrechos,
embriaga-me só de pensar em escalar seus montes, tragar seu “vinho” e ser
embebido nesta ondulação. Deixe vigorar o que o instinto sente; não retraia o
que se aflora nem contenha os impulsos levados à mente; desgarre-se do que se
impõe, negando-te a engrenagem dos dias futuros. Busque O desfrute, do qual o
Sagrado empenhou-se tanto para dar o encaixe da procriação humana; pois, o não
permitido, deixa de ser culposo e se torna venerável quando, se agasalham
desejos sinceros, compromissórios e sentimentos puros. Tanto é que, quando
David parecia ter cometido o mais grave dos pecados, nasce dele e de Betsabéia,
o fruto que, dentre os homens, recebeu do Dono da Vida, a maior sapiência;
mostrando assim que, quando o sentimento é intenso e sem malícia, cabe
aprovação d’Aquele que providenciou o cruzamento de um, na vida do outro.
Fatia
Se a vida te entranhar de corpo e
alma em mim, direi a ela que já tenho o usufruto da melhor fatia que a mesma
tem a oferecer. Dir-lhe-ei que, depois de pedir para eternizar o tempo, só
terei a lhe agradecer por ter me dado a mais preciosa e prazerosa das
recompensas pelos dias vividos aqui. Pois ela sabe que, te quero tanto, quanto
o rio necessita transbordar, para alcançar o mar.
Vida?
“Cumprir a vida” sem ter o que um olhar acanhado e
retraído clama..., sem sentir o calor molhado da pele desejada..., sem o
encaixe dos corpos em chama..., sem provar o lambuze dos lábios que se
umedecem..., sem dar às mãos o prazer do deslize na busca do ápice corporal...;
é transitar todo o viver sem provar da essência que os extremos expõem; é
amaciar o favo imaginando lamber o mel; é esperar o fruto da flor sem expô-la
ao polinizador; é querer fertilizar o solo quando a fonte já secou; é querer
frondejar um tronco que já não conduz a seiva; é querer aflorar sentimentos num
coração que, ao concluir seu tempo, sente que só acolheu no peito as cascas da vida.
Inibido
Das lutas que travei e dos caminhos que
busquei, a vida pouco me proporcionou. O destino fez seu jogo, brincou de
mostrar o rumo e insinuou, expondo seus sabores; porém, das porções que
alcancei, quando ingeri o sumo, a essência já se esvaíra. Quando meu
estame quase inaugura o pistilo da flor, dela não fui o polinizador.
Quando quase residi, fui despojado, inibido; pois, do alimento que mais tive
fome, não consegui comer; o pecado original que mais mendiguei, não consegui
cometer; da fonte que mais tive sede, não consegui beber. E foi neste brincar
de expor e negar, que do fruto que mais desejei, não consegui provar; no
desnudo que mais me enfeitiçou, não consegui tocar; o saliente, pequeno e
encoberto, que mais quis sorver, não consegui desvendar; na “fenda” que acendeu
minha cobiça, não consegui penetrar. Assim, nessa trituuura, a seiva que
vitaliza o viço resseca, retrai a libido, ofusca o ser e turva a mira
perseguida. No entanto, ainda assim, mesmo sabendo que este sentimento fende o
peito e desordena o coração, espero ser movido, extasiado e embebido pelo
gameta dessa flor, e nesse enlevo, colhê-la no agasalho desse vicejar.
Atraído pelo teu cio (Fragmentos)
Tu que tens a seiva que revitaliza meu viço;
Tu que me atrais pelos lábios horizontais e me leva a imaginar tocando as carnudas bordas verticais;
Tu que encharcas minha sede e implantas a ânsia de te querer;
Tu que, exibindo teu ondular, ressecas minha íris e incitas meu hidratar;
Tu que excitas meus desejos e os faz sussurrarem reclamos ao peito, do silêncio e da contenção;
Tu que me dás água na boca por querer provar deste mel que poderia ser o prêmio a compensar os amargos da vida;
Tu que tens o que há muito não despertava minha cobiça;
Tu que me desequilibras quando estável, me causando aperto no peito, dificuldade de respirar e perda da razão;
Tu que, com tua faceirice, despertas meu latejar;
Tu que, com esse ar de “inocência”, reacendes a chama, já quase em cinzas, e me elevas à conduta do “pecado original”;
Tu que causas ciúmes à flor do campo e deseducas meu desejar;
Tu que, com este olhar, no momento oportuno, sabes dizer e pedir o que deseja o coração;
Tu que, com este relevo corporal de saliências agudas e onduladas, me devoras, a você eu rogo: se me percebe, não queira escravizar este seu réu; não queira ver meu fim nem me ver murcho; leve-me a caminhos por onde ainda não trilhei; ouse ao menos por um instante, quebrar a timidez e fixar o olhar em mim que, ainda inibido, aguardo o confluir dos corpos, pois, bêbado de sede e inquieto, espero de forma emergente, o momento de tateá-lo; e neste desequilíbrio entre o corpo e a razão, fico na relutância de neutralizar os estímulos, que por vezes, me vencem e arrastam-me à sua dominação, e neste encanto, fico ávido e tonto só de pensar em escalar seus montes, tragar de forma voraz seu “vinho” e ser embebido por sua ondulação.
Tu que me atrais pelos lábios horizontais e me leva a imaginar tocando as carnudas bordas verticais;
Tu que encharcas minha sede e implantas a ânsia de te querer;
Tu que, exibindo teu ondular, ressecas minha íris e incitas meu hidratar;
Tu que excitas meus desejos e os faz sussurrarem reclamos ao peito, do silêncio e da contenção;
Tu que me dás água na boca por querer provar deste mel que poderia ser o prêmio a compensar os amargos da vida;
Tu que tens o que há muito não despertava minha cobiça;
Tu que me desequilibras quando estável, me causando aperto no peito, dificuldade de respirar e perda da razão;
Tu que, com tua faceirice, despertas meu latejar;
Tu que, com esse ar de “inocência”, reacendes a chama, já quase em cinzas, e me elevas à conduta do “pecado original”;
Tu que causas ciúmes à flor do campo e deseducas meu desejar;
Tu que, com este olhar, no momento oportuno, sabes dizer e pedir o que deseja o coração;
Tu que, com este relevo corporal de saliências agudas e onduladas, me devoras, a você eu rogo: se me percebe, não queira escravizar este seu réu; não queira ver meu fim nem me ver murcho; leve-me a caminhos por onde ainda não trilhei; ouse ao menos por um instante, quebrar a timidez e fixar o olhar em mim que, ainda inibido, aguardo o confluir dos corpos, pois, bêbado de sede e inquieto, espero de forma emergente, o momento de tateá-lo; e neste desequilíbrio entre o corpo e a razão, fico na relutância de neutralizar os estímulos, que por vezes, me vencem e arrastam-me à sua dominação, e neste encanto, fico ávido e tonto só de pensar em escalar seus montes, tragar de forma voraz seu “vinho” e ser embebido por sua ondulação.
Meio
Entre o inspirar (nascer) e o expirar (morrer) há
demarcações tais que, se avisados, não avançaríamos um passo sequer, ou
desfolharíamos os entremeios buscando antecipar o por vir; pois há etapas do
iirrr que a soma dos trechos mais floridos, não valem por um só caminhar nos
espinhos. No percorrer os trilhos da busca, somos expostos às arenas da vida
sem o manual de saídas, e tontos, veredamos num tatear abstrato, com um farejar
inodoro, tentando sentir o insípido, pelejando seguir as pegadas do tempo, rumo
ao que pensamos ser o nosso complemento. Movidos pela busca da parte que nos
falta, por vezes saciamos nossa ânsia com águas temporárias pensando correrem
da fonte; mas com o esvair do córrego, volta o vazio e, com ele, desfigura-se a
ilusão.
Tangência
Pobre daquele que a vida resolve brincar com seus sentimentos, traçando rabiscos que fazem cruzar no seu caminho, pessoas que cruciam seu peito e o fazem lacrimar, e se vão como se para elas tivesse sido apenas um tangenciar. Culpa delas? Não! Mas de alguém que coloca num peito, um coração “bobo” que, por amor, é capaz de sangrar. E o pior, é que, quando aquele pensa ter se recomposto, ela, a vida, mais uma vez rabisca e o faz pensar: agora é o lado a lado, não é mais um cruzar. E assim, esse “gracejar” da vida vai machucando e fazendo murchar; vai esvaziando o vigor e ressecando os condutores que fazem brotar a essência naquele que necessita recomeçar. Em cada acordar da queda, o reconduzir-se é cambaleante; pois neste ferir-se e cair, se foram pedaços, e para reconstituí-los é preciso tropeçar em alguém, que seja andarilho da mesma estrada, e que ande no mesmo sentido do seu caminhar.
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