sábado, 25 de julho de 2020

Minha folha em branco

Minha folha em branco

Incomoda-me ver uma folha em branco a me olhar.

O que está a querer? A tinta da caneta ou a tinta de um pincel a desenhar? Ou me diz apenas: fique à vontade, o que fizer vai me agradar. Como não sei desenhar, atrevo-me rabiscar com a caneta, e sempre tenho o que lhe contar. Falo-lhe do que estou sentindo, do que estou desistindo e do que resolvi enfrentar. Quando me atrapalho por não saber como dizer, ela respeita a pausa, e me olhando, muitas vezes me diz como continuar. Então saio a lhe contar como estou, como as pessoas estão e o que ainda esperar. Às vezes não sou pessimista, apenas realista; e como se isto não fosse o bastante para machucar.

De vez em quando lhe peço desculpas, quando um pingo dos olhos vem lhe molhar. Outras vezes, quando recebo mais um coice da vida, nem quero encará-la, mas logo, pela necessidade de me aliviar, recorro a ela e à caneta para desabafar e me renovar. E juntas, elas me remetem lá pro começo, quando com um grafite, eu cobria letras, tentando me coordenar. 

       Não imagino a vida sem a folha em branco, a quem recorro tanto para me expressar. Somos cúmplices de tudo; do que me incomoda, do que me alegra, até de segredos, e estes, ficam apenas entre a caneta, ela e eu.  

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